quarta-feira, outubro 01, 2008

A casca do ovo é o que importa

Goiânia: sem investimentos significativos em áreas importantes, Íris deve ser eleito em primeiro turno; os concorrentes não são boas alternativas.

Por Egnaldo Lopes
editor do JE em Goiânia

Se em várias capitais, como em São Paulo e Salvador, há alguma disputa durante este período eleitoral, em Goiânia as coisas estão exatamente o oposto. O índice de rejeição do segundo colocado, o radialista Sandes Júnior / PP, é também o segundo maior; é o que diz pesquisa do Ibope: 33% dos eleitores goianienses rejeitam a hipótese de votar no candidato. É praticamente certo que o atual prefeito Íris Rezende / PMDB seja reeleito logo em primeiro turno, mesmo tendo caído quatro pontos percentuais em intenção de voto (o correspondente à margem de erro da pesquisa) num período de duas semanas. Íris, que já foi governador do estado, tem hoje 67% dos votos contra 71% da pesquisa realizado na primeira semana de setembro, mas o índice de rejeição é de apenas 12%, o menor segundo o Ibope.

O candidato do PMDB já foi tido como ‘passado da política goiana’, sem chances de voltar ao cenário eleitoral após derrota para o atual senador Marconi Perillo em eleição para o governo de Goiás no ano de 1998. Desde então o PSDB de Marconi marcou o território goiano com o símbolo tucano em diversos municípios. 98 foi considerado um marco: um novo caminho, mais moderno, a ser seguido por Goiás, deixando pra trás o tempo dos coronéis Íris Rezende e Maguito Vilela, mas a disputa foi acirrada: Marconi teve 48,59% dos votos em primeiro turno e Íris, 46,91%. No segundo turno, Marconi venceu com 53% com auxilio do pernosagem Nerso da Capitinga e sua famosa panelinha em que os candidatos do PMDB eram provocados. Em 2002, o tucano venceu logo no primeiro turno, embalado por uma campanha para reeleição recheada de gastos nos conhecidos informes publicitários cheios de efeitos especiais e artistas famosos. Nas últimas eleições para o governo do estado, Marconi elegeu Alcides Rodrigues (seu vice nos últimos mandatos) ‘colando’ sua imagem à dele, utilizando-se das mesmas técnicas anteriores, inclusive com a volta de Nerso, desta vez imitando o candidato Maguito Vilela.



Personagem Nerso da Capitinga, de Pedro Bismark, imitando e ironizando Maguito Vilela em campanha de Alcides (leia-se Marconi) em 2006.

Hoje, Alcides Rodrigues se afastou de Marconi, eleito senador, pois o posto de governador veio junto com grandes dívidas a serem pagas. Marconi é investigado por favorecimento a municípios, formação de quadrilha, caixa dois; dentre outras acusações: o processo segue em segredo de justiça. Alcides se aproxima cada vez mais, mesmo que timidamente, de Íris e Lula. E é na capital goiana que o PMDB começou seu plano estratégico para retomar o poder no estado: em 2004, Íris ganhou até mesmo do candidato à reeleição, o professor universitário Pedro Wilson do PT. Nos últimos quatro anos, Íris fez um governo pouco significativo em áreas de importância fundamental, como saúde e educação, mas, por outro lado, chamou a atenção de todos com medidas populares ao asfaltar todas as ruas de terra da capital; comprando novos ônibus; revitalizando praças e construindo verdadeiros ‘monumentos’ como viadutos em locais de grande movimentação. Com o apoio de Lula, Íris conquistou novamente os eleitores que mais apóiam o PMDB no estado: os de classe C, D e E, mas o descontentamento com o governo estadual, mesmo afastado de Marconi, pode ser o motivo das demais classes apoiarem Íris. E não é apenas ele: Maguito tem 74% de intenções de voto em Aparecida de Goiânia, região metropolitana da capital.


Viadutos da praça do ratinho e da praça do chafariz (em fase de finalização; foto: protótipo da prefeitura): símbolos da gestão de Íris.

Enquanto isso, Sandes Júnior, apoiado pelos senadores Marconi Perillo e Demóstenes Torres, ataca justamente no ponto em que Íris é mais forte: investimento no trânsito da cidade, alegando as dificuldades trazidas pelas obras do viaduto da ‘praça do chafariz’ que resulta em desvios no trânsito e congestionamentos, mas a estratégia não é nada inteligente, uma vez que todos sabem que no final o resultado acaba sendo positivo: o viaduto Latif Sebba, mais conhecido como o da ‘praça do ratinho’ melhorou e muito o transito num dos mais movimentados pontos de Goiânia.

Não é segredo pra ninguém que Íris está sedento para assumir o governo estadual em campanha daqui a dois anos, mesmo não falando abertamente sobre o assunto, mas não há crítica por parte da maior parte da população, que parece querer mesmo o fim da era Marconi. O que só poderá ser confirmado daqui a dois anos, quando os dois - Íris e Marconi - devem voltar a disputar diretamente voto a voto, como há dez anos atrás, o cargo de governador do estado. Enquanto isso, Goiânia reflete o que existe país a fora: sem opção, o povo escolhe o candidato que deixa a ‘casca’ mais bonita e se esquece de investimentos mais significativos para o futuro da cidade. Num clima de ‘já ganhou’, Íris comemora.